
Van Gogh, Picasso, Monet… a escola proporcionou experiências marcantes à paulistana Marcela Rodrigues, como conhecer museus, grandes pintores e apreciar obras, mas também intrigou a jovem sobre o motivo de não encontrar mulheres artistas, entre os grandes expoentes da arte. Logo ela percebeu: embora as mulheres tenham criado obras fascinantes, seus trabalhos, assim como suas histórias, não receberam o mesmo destaque dos homens da mesma época.
Preocupada com essa indiferença, depois de um longo percurso, da escola à universidade, a artista digital da ZIV Gallery decidiu desenhar mulheres para tirar a expressão do feminino “de caixas” e inspirar mais mulheres a ocupar espaço na arte.
“Em um certo momento resolvi: todos os meus desenhos de formas humanas serão de mulheres, porque todas as formas de representação feminina geralmente são elaboradas por homens e nos colocam em caixas, como se fôssemos padronizadas”, destaca em entrevista à ZIV. “Nós somos muitas em uma só.”
“Meu trabalho traz mulheres delicadas e ao mesmo tempo com expressão de força e atitude, com alguma sensualidade”, detalha a artista. Logo, ela também incorporou elementos da natureza aos trabalhos porque “semear, colher, dar frutos são máximas femininas.”
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ToggleA arte de brincar sozinha
Marcela era uma desenhista contumaz na infância. Filha única, encontrou no desenho uma brincadeira para fazer sozinha e sem perturbar os pais.

A pequena desenhista cresceu, ganhou concurso de ilustração na adolescência e decidiu cursar publicidade para continuar explorando seu lado artístico, mas a realidade mostrou-se muito diferente. Além de não ter mais tempo para desenhar nesse período, trabalhar em agência de publicidade, por quatro anos, foi cansativo e pouco criativo. “Era um ritmo muito louco e apesar de gostar de trabalhar com criação, era muito podada, ficava engessada em meio a contratos e clientes”, conta.
Cansada física e mentalmente, Marcela pediu demissão do trabalho e fez um mergulho intenso e profundo em si mesma, especialmente quando descobriu a arte de desenhar e pintar mandalas. Começou a desenhá-las de forma espontânea, como hobby, foi pesquisando por conta própria seus significados, fazendo e refazendo círculos e camadas infinitas e simétricas, de forma muito intuitiva. Na mesma época, descobriu a meditação e as duas técnicas ajudaram a artista a voltar a desenhar com alma. “A arte é como meditação, precisa de tempo e atenção e é intuitiva como o desenho de mandalas”, explica.
Após as mandalas, passou a acrescentar mensagens e a explorar temas com os quais tem forte conexão, como a natureza. Foi aprofundando-se sozinha em diversas técnicas até sentir a necessidade de desenhar pessoas. Para essa nova etapa, buscou um curso de Anatomia para compreender as bases dos traços humanos.
Cada passo do novo momento, a artista publicava em seu Instagram, sem pretensões, e ia recebendo retorno positivo de amigos, familiares, conhecidos e inclusive das marcas citadas em seus posts.
Mistura de analógico com digital

Munida de novas técnicas e decidida a retratar pessoas, Marcela sentiu necessidade de voltar-se para a expressão do feminino. Da plataforma analógica – papel, tela e tinta -, a artista passou para o meio digital, onde pode exercer melhor suas perspectivas de perfeição.
Atualmente, mescla com maestria os dois formatos em mulheres fortes, doces e profundas. Começa muitos trabalhos fazendo aquarelas em papel ou tela e depois transpõe para o digital. E quer ir além, para colocar à prova seu perfeccionismo de capricorniana, brinca, especialmente após o trabalho no painel coletivo da ZIV. “A arte é sempre um caminho, não é um ponto de chegada”, filosofa.
O painel da ZIV permitiu à artista elaborar melhor a imperfeição no digital. “Sabe aquele risco não totalmente certinho? A arte está nesse detalhe do momento.”
A paulistana destaca a participação do sócio da ZIV Gallery, Helder Kanamaru, em seu desenvolvimento artístico fazendo questionamentos inquietantes sobre perfeição e quem pode dizer: “isto é perfeito” ou “é imperfeito” e se sentiu acolhida com as novas reflexões.
“A ZIV foi abrindo portas e novas possibilidades. A história do painel foi um desafio importante, porque a maioria da galera pega spray e faz algo maravilhoso sem rascunho. Eu gosto de fazer rascunho antes, medir. Aí vieram Evandro e Keity, me inseriram nesse projeto lindo para o qual tive de subir em andaime para fazer minha parte. Nunca fiz isso na vida e esperei para ver como seria misturar tantos estilos e o painel ficou incrível. Está sendo uma possibilidade de troca e aprendizado muito grande”, conta. Ela desenhou a índia com folhas do mural interno da ZIV.

“Sou perfeccionista, mas estou aberta às propostas da arte e já considero usar o spray em meus trabalhos”, adianta.
Para Marcela, sempre tímida, a arte é uma forma de comunicação. A arte fala por ela. É um modo de expressar-se no mundo sem ter de falar, mas dizendo tudo.
Conheça as obras de Marcela Rodrigues na ZIV Gallery, galeria de arte no Beco do Batman, cujo propósito é criar oportunidades e gerar transformações com arte!
Galeria de obras da artista digital Marcela Rodrigues:
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Colab de Marcela Rodrigues e Francio de Holanda:
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